terça-feira, 29 de outubro de 2013

Bonecos


Enviaram-me um fw com estes bonecos do Quino. Uma pessoa que tinha passado aqui pelo blog onde ultimamente tenho chamado a atenção para a "má educação" que muitas vezes, e cada vez mais segundo me parece,  se transmite aos nossos  filhos. 
Achei que ficava aqui bem. Sem mais palavras:

















Cereja

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Um fenómeno cada vez mais vulgar III) Regras e limites

O que é demais, é demais. 
«As regras são para cumprir»? Huummm... Depende, não é? Nem sempre, pensamos nós. Aliás também se diz que «não há regra sem excepção». Um mundo em que se vivesse espartilhado em regras severas e para tudo seria um sufoco. Confesso que pertenço ao grupo que não aprecia excesso de regras, gosto de escolher o que devo fazer. Mas... Como é que circulávamos se não houvesse regras de trânsito? Assim como todos gostamos de sentir a liberdade, e por isso mesmo se diz que «a nossa liberdade termina quando começa a liberdade do outro».
E é isso o que estes meninos que vêem os outros como objectos, não sentem.
Estes princípios, de que precisamos de regras para viver em colectivo e não somos livres de fazer tudo, aprendem-se em criança. Aprende-se na família. Numa família existem os adultos que tomam decisões, protegem, são responsáveis, mandam. E as crianças que devem ser protegidas, a quem não se pede responsabilidades e devem obedecer.
Obedecer cegamente a tudo? Talvez no tempo da Rainha  Vitória, ou nem aí... Não. Não é nada bom uma criança demasiado passiva, que aceite tudo sem discussão e desde há muito que isso se sabe. Mas essa situação da criança passiva, o que é muito mau, encontramo-la agora menos do que o seu oposto. Vemos muitas crianças e adolescentes que vivem segundo o princípio do prazer imediato. Pensam em algo, seja um objecto, uma actividade, uma experiência nova, uma peça de roupa, seja o que for e não suportam a espera. Tem de ser de imediato ou já não lhes interessa. Não digo bem. Claro que interessa, interessa loucamente até obterem, mas assim que o conseguem o interesse desvanece-se.
E o curioso é que tudo é exigido sem a menor contrapartida. Se lhe perguntarmos «E o que fizeste para merecer isto?» olham-nos como se fôssemos doidos. Por vezes insisto «Tiveste uma nota muito boa? Ajudaste mais nas tarefas domésticas? Fizeste um favor grande à mãe ou ao pai?» e a resposta é encolher os ombros. Querem as aulas de guitarra, ou os ténis de marca, ou uma ida à neve, porque-sim. Sabendo já que ao fim de 2 meses estão fartos da guitarra, estragaram os ténis e vêm aborrecidos do fim-de-semana na neve.
Enquanto os pais se privam de coisas de que precisam para os satisfazer.
E eles não ficam nada agradecidos!
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Algo está muito mal!



Cereja
 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Um fenómeno cada vez mais vulgar II) a frustração

Frustração. É uma palavra desagradável  para uma emoção negativa. Refere-se a um sentimento misto de tristeza e raiva por não se conseguir algo que se deseja. Falamos muito disso actualmente, não era noção que eu ouvisse muito em criança nem o lemos com frequência em romances do século passado, mesmo se o sentimento em si é tão antigo como o homem! A vida, e sobretudo a vida em sociedade implica frustração. A vida em grupo implica um 'toma-lá-dá-cá' e o "dá cá" nem sempre acontece como e quando se deseja. O resistir convenientemente à frustração aprende-se e é difícil.
E essa lacuna, o não ensinar desde muito pequeno como se resiste à frustração, é dos erros mais graves que os jovens pais podem cometer. A imensa ternura que sentem por aquele pedacinho de gente que depende tanto deles, faz com que lhes adivinhem os desejos e os satisfaçam de imediato. Há desejos que são também necessidades, sono, fralda limpa, fome, e devem ser resolvidos com brevidade. Mas esforçar-se por chegar a um brinquedo, ou esperar um pouco por que lhe peguem ao colo, só faz bem à criança, acreditem. Assim como encontrar por si mesmo soluções para o que quer: agarra a fralda ou o peluche para adormecer sozinho e isso aumenta a sua autonomia. Mas muitos pais vêm um serzinho tão frágil, que facilitam tudo. "Vai ter tempo de sofrer, quando for crescido!" é o pensamento. E vai-se evitando tudo o que o posso frustrar, à menor ameaça de beicinho tudo se resolve.
Erro grave. O que não se aprende em pequeno é muito mais difícil de aprender mais tarde. A intolerância às pequenas frustrações vai ser uma bola de neve, aumenta com a idade de um modo assustador, vamos ver uma criança sempre zangada, um adolescente insuportável, uns jovens a quem nada satisfaz.
Claro que a sociedade tem culpa. Há multinacionais de brinquedos, de roupas, de móveis para crianças. E que se esforçam por vender. São mesmo especialistas no assunto com técnicos que sabem bem como se faz: um brinquedo engraçado que a criança deseja, a mãe dá, mas no dia seguinte aparece outro e a criança quer o novo, e no dia seguinte lança-se um diferente, e o mecanismo cria o seu monstro - o importante não é brincar com o brinquedo é a chegada de um novo! Quem não conhece estes casos? A exigência constante, mais, mais, mais, a birra, a chantagem, e a escalada que se segue.
Vemos crianças destas constantemente. Que querem (exigem!) um bolo e depois de uma dentada displicente o deitam fóra. Que querem sempre outra coisa daquilo que lhes é oferecido - um passeio se lhe propõem cinema, o campo lhe lhes oferecem praia, ficar em casa em vez do zoo... Querem mostrar que elas é que decidem.
E num tom e postura de completa arrogância, o que seé "quem manda sou eu!» frase que até às vezes dizem com convicção. Frequentemente funciona a chantagem "não gosto de ti!" ou "só gosto se me deres o chocolate!" e incrivelmente o esquema funciona. Conheço crianças que antes de dar um beijo à mãe  quando chegam ao pé dela, vão à carteira ver o que lhes trouxe. E outras que ao ver uma prenda protestam "isto?! mas que porcaria!". São meninos mal-educados? Pois são. E são sobretudo crianças infelizes, que não dominam a frustração, e que vão tornar quem com elas convive também infeliz.
Cuidado!



 Cereja

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um fenómeno (?) cada vez mais vulgar

A semana passada comprei e li um livro novo.
Muito interessante. Remeteu-me para outro que já tinha lido há anos e fui buscá-lo à estante. Lá estava, bem lido e sublinhado: Da Criança-Rei à Criança Tirana  Tinha já passado algum tempo entre a leitura dos dois mas o tema estava actual e talvez cada vez mais. E o adjectivo até era o mesmo "tirano". Tirano é um déspota, um opressor... Nada mais oposto à imagem da criancinha angélica com que muitos pais sonham ou, enfim, ao pequeno diabrete que faz uns pequenos disparates que até nos podem fazer sorrir.
Nada disso.
Qualquer destes dois livros trata de um problema muito diferente, de uma completa inversão de valores familiares, uma situação onde os filhos detêm de facto o Poder e exercem-no ou com chantagem ou até simplesmente com autoridade, de um modo absoluto. Não faz sorrir nem tem graça nenhuma. O problema existe e é preocupante. 
No caso do livro que li mais recentemente, (o outro estou a relê-lo agora) o autor Michael Winterhoff desenvolve uma teoria interessante: no nosso cérebro surge primeiro uma 'célula nervosa relativa ao objecto', ou seja quando somos muito pequenos reconhecemos objectos como empecilhos aos nossos desejos, mas que podem ser removidos. Ele dá como exemplo a cadeira no caminho do bebé que gatinha, pode ser removida sem qualquer dificuldade, é reconhecida como objecto. Mas, se no caminho estiver uma pessoa a reacção é diferente, tanto pode pegar-lhe ao colo como fazê-la voltar para trás, e a criança acaba por activar a 'célula nervosa relativa à pessoa'. Os objectos não tem vida e podem ser tratados mais ou menos à bruta sem reacção, mas as pessoas que rodeiam a criança têm reacção e, se não existir uma relação simbiótica, contrariam de vez em quando a vontade da criança. Ela assim aprende a sentir limites, perceber a diferença e respeitar a pessoa enquanto tal. Reconhecê-la como sua igual.
O grave é quando tal não acontece. Crianças pequenas, e depois mais crescidas, e depois adolescentes, e finalmente jovens adultos ou adultos plenos, que nunca foram controlados e continuam a ver os outros como objectos. Do ponto de vista do desenvolvimento afectivo, pararam - ele usa o termo "estagnaram" - nos 3 anos de idade. Um egocentrismo avassalador porque houve um estádio que nunca foi ultrapassado, o resto da sua inteligência é normal mas o mundo é que se tem de moldar à sua vontade e desejo porque é assim que eles o vêem, os obstáculos tem de ser arredados do caminho sem a menor auto-crítica, porque tal seria reconhecer os direitos dos outros coisa que não conseguem fazer. Não aprenderam na altura certa.
O livro é facílimo de ler até porque está recheado de imensas histórias e observações efectuadas nas suas consultas, apontamentos recolhidos durante uns 20 anos. Casos iguaizinhos a muitos que conhecemos.
Vamos pensar um pouco nisto, porque cada vez é mais difícil pôr um travão nestas crianças/jovens que 'estagnaram' emocionalmente e isto acaba por se tornar um vírus social, na minha perspectiva.
Mas ainda há muito para dizer, o que vai ficar para outro post.


Cereja




quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Ai rebenta, rebenta!

A desumanização e a asfixia económica do momento actual vai além do que era imaginável, quase desde que me recordo.
Na minha vida que já vai longa, exceptuando curtos períodos, sempre vivi a contar os tostões mesmo tendo nascido numa família que se podia classificar de média burguesia. Felizmente herdei um gene da minha mãe que me fazia pensar duas vezes antes de gastar fosse o que fosse (digo da minha mãe que o meu pai não tinha tal!) e, bem ou mal, tenho vivido "com o que tenho", expressão muito irritante seja dito! Nos tempos muito antigos, quando o meu ordenado era pago em dinheiro e não através do banco, tinha um sistema de envelopes onde distribuía o que ganhava e o que ia poder dispor. Eram vários, alguns com quantias certas (renda, salário da empregada) outros com uma aproximação (electricidade, gás, água, telefone) e outros com algum bom-senso (alimentação, higiene, transportes) Como eu não via o bolo inteiro isso ajudava-me a perceber o que podia gastar. Até porque o salário era igual todos os meses e as despesas também previsíveis.
Depois isto descontrolou-se. A balança oscilava muito depressa, alguns preços aumentavam muito mais do que o previsível e os salários só no ano seguinte compensavam esse salto. A ginástica era complicada, mas sempre que os salários aumentavam havia uma folgazinha que permitia durante uns meses algum desafogo, para além de algumas promoções que a carreira ia dando. Ia-se vivendo sem as vacas chegarem a engordar, mas sem grande magreza. As regras da economia ainda eram compreensíveis: a inflação ia sendo compensada pelos salários, mesmo que tardiamente.
Neste momento na nossa terra vê-se algo estranho - os salários descem! Isso é que eu não me lembro de ver. Não apenas descem por um brutal aumento de impostos, como até descem de facto nos valores em bruto, oferecem-se ordenados incrivelmente baixos para funções de responsabilidade. E, simultâneamente, os preços continuam a subir e muito. Li agora, por exemplo, que a electricidade aumenta acima da inflação e do tecto do governo  E sabemos como a electricidade é básica, na vida moderna. 
As rendas de casa subiram de um ano para o outro. Os transportes públicos exigem-nos quase o dobro do que se pagava. O preço do gás também subiu loucamente. Ou seja os preços das necessidades básicas dispararam, enquanto os salários se reduzem isto para além do impressionante aumento do desemprego. E em muitos casos o desemprego significa, por uma generosidade generacional que ainda existe em Portugal, famílias alargadas a viver por conta da reforma de um pai ou mãe...
E oferta de trabalho? Hummm... Contou-me ontem uma amiga, a quem uma empresa tinha despedido e na véspera estava animada porque tinha tida uma oferta de outra bastante boa, que afinal para entrar para os seus quadros tinha que levar com ela 200 nomes de pessoas interessadas nos serviços desta nova empresa. Heim?! Duzentos nomes, coisa pouca...
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Que a corda vai rebentar, não pode haver dúvida, resta saber quando.





Cereja