A palavra já enjoa. Poupar, poupar, poupar. Nas conversas, nos discursos, nas entrevistas, e sobretudo na publicidade. Claro que na publicidade quando dizem "poupar" querem dizer "gastar", gastar menos mas gastar, é claro! Já aqui tenho dito que eu, como os da minha geração, aprendi cedo a aproveitar tudo. Havia relativamente pouco lixo, porque tudo se aproveitava. Não existiam "embalagens" e quer garrafas e frascos, quer papeis, eram sempre reutilizados. E consertava-se sempre o que estava partido ou estragado. Até na louça se punham 'gatos'. (algum jovem sabe o que é?)
Adiante, que é de outra coisa que quero falar.
Tenho tido a má experiência de já ter participado no "desmanchar" de várias casas. Pais, sogros, tios, amigos idosos. É um trabalho muito doloroso, a selecção do que se guarda e o que não se pode guardar e chocou-me sempre o pouco valor com que é avaliado esse recheio pelos compradores que o vêm avaliar. E que depois o vão vender por 100 vezes mais!
Mas com a questão da crise económica tinha a doce ilusão de que talvez as mentalidades tivessem alguma alteração. Mas enganei-me.
Acontece que estou mais uma vez a ajudar a esvaziar uma casa. Era um consultório que, com o ajuste das rendas, se tornou impossível de manter e vai ser entregue ao senhorio. Ofereceram-se algumas coisas, ainda guardámos para as nossas casas tapetes, cortinas, candeeiros, e decidiu-se contactar uma dessas ongs - tipo Remar ou Emaús - para o resto do mobiliário.
E agora vem a surpresa. A primeira disse logo não estar interessada, a segunda não tinha vagar para passar por lá só podia daqui a imenso tempo, a terceira foi lá, torceu o nariz e disse que aquilo era tudo para o lixo. (???!!!) Esclarecimento: não era tralha que estivesse numa cave qualquer, cadeiras com pernas partidas e buracos nos estofos! Eram estantes, cadeiras, sofás e mesas, que ainda há 15 dias estavam a uso. A postura desdenhosa das pessoas era decalcada dos tais compradores que oferecem um décimo do valor, só que... era para ser oferecido! E não levaram. O argumento foi que o trabalho de restaurar era maior do que o lucro de uma futura venda.
Não nos tinha ocorrido essa coisa do lucro da venda. Imaginávamos que, com algum arranjo e limpeza, pudessem aproveitar um armário grande de boa madeira, várias mesinhas, sofás e cadeiras, para ajudar no arranjo da casa de alguma família, ou até melhorar um lar de 3ª idade por exemplo. Tudo grátis, pro bono, digamos assim. Como nessas ongs também dão formação em marcenaria e estofos, aquilo podia servir para os formandos praticarem.
Ingenuidade a minha.
Afinal tudo se rege por cifrões e mainada!
Qual aproveitamento, qual reciclagem!!!!
LIXO!
Qual aproveitamento, qual reciclagem!!!!
LIXO!
Cereja