sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Escutas Olhos e ouvidos do Rei

Sabemos que há poucas coisas novas debaixo do sol, não é? O que muda - e muito! - é a tecnologia, mas os interesses humanos levam muito, muito tempo a mudar.
Tenho pensado bastante, ultimamente, nesta coisa das 'escutas'. Coisa antiga, claro está. Aprendi quando era miúda que tinha começado lá na Pérsia Antiga, quando o imperador tinha criado uma força de espiões que ouviam o que as pessoas pensavam e iam contar. Uns milhares de anos depois, os senhores que mandam, fazem o mesmo: escutam o que as pessoas dizem quando não sabem que estão a ser ouvidas, para depois as acusarem, com a justificação, é claro, que é para se defenderem...
Sempre achei que era coisa feia. Porque quem fala, pensando que o que diz é para determinados ouvidos, organiza o seu pensamento de um modo que nem sempre pode ser generalizado.

Recordo uma cena a que assisti, já com muitos, mesmo muitos anos, altamente constrangedora:
Tivemos uma questão complicada no Serviço onde eu trabalhava. Uma pessoa tinha sido transferida de lá sem aviso, o que fazia perigar toda uma resposta que o responsável por essa área estaria a dar. Era um caso bem grave. Reuniram-se de emergência vários técnicos para estudar a situação, e uma colega e amiga minha, muito desembaraçada, insistiu muito para que um dos presentes aceitasse o lugar que estava vago. Seria uma boa solução, de facto, era uma pessoa muito competente e até acima do que seria necessário para o cargo. Ele aceitou. Ela, felicíssima, liga de imediato para o coordenador e diz-nos antes toda sorridente «Vou pôr o telefone em alta voz, para ouvirem a alegria dele!»

Bom, a cena devia ter sido filmada!!! Porque depois da notícia a «alegria» resumiu-se a um enooorme silêncio e, enquanto nos entre-olhávamos, ele só responde «ah...» num tom muito infeliz. E ela, palerma, a insistir «Conseguimos o *****!» mas ele continuava, mostrava que não achava nada boa ideia, e ela interrompeu «Estamos em alta voz!» e claro que o tom mudou completamente.

Às vezes recordo essa cena caricata, para esclarecer que o que dizemos depende muitas vezes de quem nos está a ouvir, e nem é por mal. Mas seja o que for, desligado do contexto e do momento, pode ter leituras perfeitamente opostas.
Pois é! (esta carapuça não tem nome, serve a qualquer pessoa)


Cereja

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Confusão e neblina

Os últimos tempos dias têm vindo a baralhar muito a minha capacidade de ver claro.
Li, num post de O Jumento esta frase: «Dizem-nos para não confiar nos políticos e confiarmos nos magistrados, os primeiros devem ter o estatuto de tendencialmente corruptos enquanto os segundos são umas prima donas da democracia, os sacerdotes que rezam no altar da democracia. Mas o facto é que não é aos juízes formados nos tribunais plenários que devemos os bons princípios da nossa justiça e da Constituição, é aos políticos e aos militares, não foram os juízes que construíram a democracia ainda que hoje se considerem os seus donos e protectores.»
Pois é.

Detesto generalizar. Detesto ainda mais generalizar sobre uma profissão porque dá sempre asneira, somos inevitavelmente afectados pela nossa experiência pessoal no que a essa profissão diz respeito.
Mas...
Felizmente vivi a maior parte, quase a totalidade, da minha vida sem entrar num tribunal.
Fi-lo umas 3 ou 4 vezes.
E dessas, 3 vezes a sentença final do juiz pareceu-me profundamente injusta. Profundamente. Fazendo num caso tábua rasa de pareceres técnicos de peritos com uma longa experiência na matéria, e noutro repescando um pormenor técnico que o advogado deveria ter rebatido se o pudesse ter feito (não sei como isso se processa) Ou seja, a imagem que tenho dos juízes, não é que estejam acima dos graves erros dos comuns mortais. Pelo contrário, pela minha experiência, até erram mesmo muito.
Por isso os últimos acontecimentos me deixam muito confusa e embaraçada.
Não quero fazer juízos de valor, mas que a nossa justiça não tem a venda bem posta, não tenho nenhuma dúvida.


Cereja

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Tempo(s)


Sabemos que existem vários 'tempos' apesar de nem sempre nos lembrarmos disso.
Ouvi ontem na rádio um senhor, que até disse coisas bem interessantes, censurar quem usa a expressão «no meu tempo» que ele considera um erro, sugerindo essa expressão que quem o diz vive no passado quando o tempo actual também é dele. Não concordo. O tempo de hoje também é dos mais velhos, a inversa é que não - para os mais jovens o passado próximo é História.

Fait-divers pessoalíssimo: ontem comprei um telemóvel novo.
Por feitio meu só os costumo mudar quando dão o pio final, o que demora alguns anos. Mas desta vez o bicho de três aninhos de idade, apesar de ainda fazer telefonemas e mandar mensagens, ficou desactivado de uma ou duas coisas que também uso e decidi trocá-lo.
Fui à loja e abordada por uma vendedora expus o que pretendia. Eu estava aberta a qualquer opção, a condição era o preço que tinha de ser bastante limitado. A menina, boa vendedora, muito simpática, mostrou-me as opções sem 'impingir' nada, apenas explicando as vantagens relativas. Gostei muito dela, e como a operação foi demorada fiz alguma conversa.
Como o seu aspecto e das colegas era extremamente jovem, fiz esse comentário, dizendo a rir que pelo menos 16 anos tinham de ter todas...  :D Tinham mais mas não muito, andavam pelos 18 e explicaram-me que era part-time, estavam ainda a estudar. Conversa agradável. 
No final perguntou-me se queria levar o telemóvel já ligado, o que aceitei agradecida. Não gosto nada de explorar as entranhas dessas bichos, depois de os começar a usar nunca os abro como vejo alguns amigos fazerem. Portanto fiquei contente com a oferta, essa parte ia já despachada. Mas, eis senão quando, surge um obstáculo: o meu cartão velhinho não cabia na patilha do telemóvel novo! Pedido conselho a outro colega fui aconselhada a ir ao fornecedor pedir outro cartão.
O engraçado aqui é que quando começámos a investigar porque é que o cartão estava tão velho, expliquei-lhe que aquele devia vir ainda do meu primeiro telemóvel, ou seja o cartão era quase da idade dela!! Esse pormenor fez-nos rir as duas! Aquilo ainda era do tempo em que o telemóvel era do tamanho dos actuais telefones sem fios (os grandes) e não havia assim tantos como isso...
Mas o pensar que aquele chip já andava na minha carteira quando ela usava chucha é uma imagem forte. Essa parte do meu tempo, é mesmo só minha e da malta da minha colheita.


Cereja

domingo, 16 de novembro de 2014

Alimentação

Li há uns tempos uma notícia reportagem que me pareceu muito interessante. Passando directamente à frase com que pretendo acabar este post, podemos concluir que "a comida não é só sabor".
Muito pelo contrário.
A história era engraçada e contava como tinha sido levar 5 crianças a comer uma refeição num restaurante de luxo. Mas não tinha sido irem de mão dada aos pais, e comerem aquilo que vinha na lista, ou o que escolhessem pelo nome. Não senhor! Eles foram uma espécie de júri para avaliar a competência desse restaurante. «Cada prato foi devidamente explicado aos cinco críticos e depois pontuado numa grelha construída à medida, em que a avaliação se desdobrava em apresentação, sabor, cor, textura e cheiro. Todos os itens foram avaliados numa escala de 1 a 5.» Ora isto é que é interessante: apresentação, sabor, cor, textura e cheiro. Quatro dos nossos sentidos eram necessários para uma boa avaliação da qualidade daquela refeição. Faltou o ouvido, e se calhar....
Notem ainda que para estas crianças, o sabor foi o menos valorizado!

Isto vem muito ao encontro daquilo que penso quanto à comida. Uma refeição é (pode ser ) um momento social. É certo que comemos para nos manter vivos e para isso é necessário ingerir vários produtos. E, claro, pode ser simplesmente uma rotina, uma obrigação, como lavar os dentes ou calçar os sapatos, ou um momento de prazer. Ora muitas vezes oscilamos entre os dois extremos, o que se nota bem quando comemos sozinhos em casa, ou com um grupo agradável. E, para mim, mesmo quando comemos em casa, a apresentação do prato que vai para a mesa tem importância. O colorido dos produtos que  são utilizados. o modo como a sua cor e textura se combinam. É uma grande convicção que tenho, não é nos grandes restaurantes que se aprende a comer bem, é no dia a dia da nossa casa. E muitas crianças niquentas, que não gostam disto e daquilo, torcem o nariz porque a apresentação à má!
E, sei do que falo, excepto quando se despeja directamente do tacho para o prato, é sempre possível sem aumentar quase nada o trabalho mostrar uma apresentação agradável.
A comida não é só sabor, pois não!





Cereja