quarta-feira, 5 de julho de 2017

Quem vê caras....


Eu luto um pouco contra as 'ideias feitas' e os estereótipos, mas é claro que a nódoa cai em todo o tipo de pano 😌
Ilustração desse provérbio:
Tenho na minha rua uma lojinha a que não o que devo chamar. Lugar? Mercearia? Vende sobretudo hortaliças e fruta, mas tem um pouco de tudo. Um espaço pequeno, um pouco sombrio, propriedade de (um indiano ? paquistanês?) um homem de pele escura, sorridente, de português macarrónico, muito atencioso.
Os preços são impressionantemente baixos. E os produtos são saborosos embora sem grande aparência. A fruta, exposta fóra da porta, é pequenina e desigual, nada de encher o olho como nos expositores das grandes superfícies, e como está ao ar livre, sem refrigeração, vai amadurecendo conforme lhe bate o sol... Não há lá ar refrigerado! Mas a dita fruta, assim enfezada por vezes, tem muito mais sabor do a vistosa dos supers!!! Assim como os legumes, batatas, cebolas, alhos, é tudo baratíssimo e saboroso.
Não vou lá tantas vezes como a loja merecia porque se situa no caminho oposto ao que utilizo todos os dias, e esqueço-me dela. Mas já reparei que é frequentada por muitas velhotas (senhoras idosas?) da zona, que se calhar param ali quando vêm da Farmácia ainda mais abaixo depois de medir a tensão arterial... Ontem quando lá entrei um casal estrangeiro falava em inglês com o dono, uma conversa animada, ouvida com atenção por uma das tais velhotas. Quando ficámos sós, ela perguntou-lhe «Ah! Falas inglês?!». Fazendo conversa eu, sorridente e talvez com uma pontinha de superioridade, respondi-lhe «Com certeza que fala... Deve ser mesmo a sua segunda língua! Fala melhor do que português, e melhor do que nós...»
Com surpresa minha, a senhora de pele muito enrugada, cabelo grisalho mal penteado, vestido trapalhão, e sinais de muito poucas posses, vira-se para ele e começa a falar em inglês! Não, não era inglesa, as palavras saiam um pouco hesitantes como quem procura o termo mais correcto, era uma portuguesa a falar um bom inglês! Ele, bem mais à vontade do que eu tinha ficado, perguntou como é que ela falava tão bem, e ouvimos a resposta - tinha sido professora de inglês!!!
Senti-me envergonhadíssima com o meu preconceito.
Vendo-a naquele lugar e com aquele aspecto, automaticamente classifiquei-a como uma avozinha-dona-de-casa com os conhecimentos adequados à aparência. Creio que corei de vergonha.
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Pois é as caras não acertam com o coração, ou com o passado de cada um.

Cereja

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Dominó - branco ou preto




Li há pouco no twitter: «portugal dominó: o salvador não presta, o fernando santos é horrível, o marcelo é um troca-tintas, e o costa ainda vai matar-nos a todos»
Certo, era de um twitter que tem bastante graça, e mais uma vez foi tiro certo. Assim vai a nossa opinião pública. Um pêndulo (de newton, com várias bolinhas) 
Faz-me alguma impressão sobretudo quando esqueço a prudência e me deixo apanhar por um dos extremos, ou o facebook onde tenho quase só amigos que pensam como eu, ou o extremo dos comentários anónimos (?) dos jornais.
No caso do fb é mau para o mim porque acabo por não levar em conta que as pessoas que pensam exactamente o contrário de mim são tantas, tantas. tantas... e que a minha 'amostra' está muuuito viciada. No caso do dominó, ou antes 'jogo de damas', são só pedras brancas. Erro. Aliás o lado artificial do fb é notório quando alguém deixa uma foto pessoal, que recolhe sistematicamente comentários dizendo «liiinda!», «pareces uma estrela!», «lindíssima!!!» o que como se calcula não pode ser verdade. Faz-me sempre sorrir porque é um jogo - quem deixa a foto sabe bem que não é lindíssima, e quem diz os exageros sabe que lhe vão dar desconto.

No outro extremo, as pedras pretas, estão os 'comentários' dos leitores mais ou menos anónimos  que todos os dias se dão ao trabalho de «analisar» as notícias da imprensa. Por exemplo, um artigo do New York Times inventariando as mentiras do Trump desde que chegou ao governocoisa óbvia e que só refere factos. E, enfim, o New York Times é um jornal respeitável com mais de século e meio de existência, 118 prémios Pulitzer. Ora vejam, se tiverem curiosidade em ler os comentários que se seguem a este artigo ficam com uma ideia do que se passa na cabeça das pessoas! Exemplos tirados a copy/past :
a) Mentiras de Trump? ...ou mentiras sobre Trump...? b) Os media não se conformam com a vitória de Trump. c) ...e o anterior foi melhor? d) Os outros estavam mais preparados para fazer a mentira parecer mais verdade,aqui a única coisa é mesmo a perseguição que existe ao homem. *( ler no fim da página uns bem piores, com palavrões e tudo, escolhidos ao acaso) 
Poderia ser «normal» [hmm...] se lêssemos alternadamente outras opiniões, discordando deste lixo. Mas o que me deixa desnorteada é que isso raramente acontece! Neste caso, quando o li, em toda a página só lá estavam este tipo de comentários. E ocorre em todos os artigos que leio e onde me atrevo a ler comentários. De vez em quando aparecem uns ingénuos a querer deitar água na fervura, mas são logo corridos a poder de insulto e palavrão. As «caixas de comentários» dos jornais são caixotes do lixo, comentários grosseiros e com uma visão radical de direita de todo o mundo.
Impressiona-me.
Seria interessante que se fizesse um estudo sociológico - estão a fazer estudos por tudo e por nada! - para saber confirmar a classe socio-cultural destes opiniadores. Se, como parece, forem pessoas de 'poucos estudos' devemos refletir como é que a direita e até a extrema-direita domina tão completamente neste meio.
Mas para não me subir a tensão arterial vou voltar para o meu mundo confortável do facebook, irreal mas onde as discordâncias são aceitáveis.



Cereja
* e) Como sempre digo enquanto os caes ladram a caravana passa... chorem mais um bocadinho idiotas anti-Trump que ele promete oferecer-vos um lenço para limpar as lagrimas do vosso focinho kkk 
f ) impressionante como a FDP dessa media esquerdista nao se conforma com a vitoria desse grande homem que é o Trump. Os fdp criaram um inimigo de estimacao e alvo a abater nas suas cabecinhas cheias de mer... tipica da mentalidade podre esquerdista (pró bic...hanices apa- neleirados, lgbts, feminismos, ideologias degenero, mania da vitimizacao, e perseguicao das pobrezinhas minorias,etc) Para os anti-Trump aconselho que enfiem um desses supositorias pelo buraco do c-u acima que essa vossa  TRUMPOFOBIA passa logo...
g) continua a azia dos média, e ataques cobardes, com a tentativa de formatação da opinião pública.O que não entrou na cabeça dos média é que estão ultrapassados, e foram expostos nas  suas fakes news e ideologia esquerdalha.Ainda têm mais sete anos de azar pela frente. E os média portugueses vão na onda. ..em vez de informar opinam. Depois queixam-se da lixeira em que está o jornalismo, salvo raras excepções.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Uma cansativa luta quase diária

Havia uma ideia-feita, nos estereótipos mulher-homem, que afirmava que as mulheres gostam de fazer compras. Ponto final. Desde miúda que ouvia isso. Tinha dois aspectos a) como as mulheres gostavam, homem que é homem não se devia preocupar com isso b) metendo no mesmo saco tudo o que fosse compra ridicularizava um tanto a mulher mas de uma forma leve. Claro que ao sair de casa dos pais, dava conta que o papel higiénico não se materializava na casa de banho, e o pão depois de comido não voltava à caixa do pão. Alguém velava para que isso acontecesse....
E, sabemos que a maioria das coisas que precisamos sempre de comprar são necessidades, muitas vezes urgentes mesmo que rotineiras. E em Portugal, onde a média dos salários é ainda tão baixa, menos de metade da União Europeia, temos de olhar cuidadosamente para os preços e estar sempre a fazer comparações. Porque, para quem o não faz, o 'fim do mês' chega bem mais cedo do que o fim do ordenado.
Mas como o grande comércio tem uma ganância desmedida, a publicidade e os truques atacam em força. É uma guerra aberta, entre o consumidor e o grande vendedor. Muito cansativa... Truques aos montes: 1- os carrinhos dos supers são muito grandes porque vendo poucas coisas lá no fundo parece que se comprou pouco 2 - os produtos mais baratos estão nas prateleiras mais em baixo onde escapam ao olhar normal 3 - não é nada fácil comparar preços e quantidades ( é obrigatório mostrar o preço do produto ao quilo mas mal se vê o dístico onde isso está) 4 - muitas vezes vende-se quantidades enormes numa embalagem porque «sai mais barato» mas eles escoam os stocs e o produto vai apodrecer é em casa do comprador 5 - alguns produtos parecem baratos, mas as embalagens não são de meio quilo como parece, são 400 gr (uma libra ) que é um peso que não se usa cá,  etc, etc. Vivemos numa caça ao embuste mas legal (!!!)  que há cuidadinho com a lei...

E os letreiros? Quando há muitos, muitos anos vi pela primeira vez o 99 fiquei a pensar e sorri. «Olha que ideia! Menos um tostão?!»  Parecia-me ridículo. E era. Mas afinal estava psicologicamente certo. Hoje quase todos os anúncios usam o vírgula noventa e nove. Já não se usa escrever um preço sem apêndice. Mesmo quando um cêntimo não altera em nada o gasto que se faz. É o costume 😖
E há outro truque 'engraçado'. Há pouco fui quase vítima dele. Imagine-se muitos objectos num expositor e por cima um letreiro que se via bastante ao longe: TUDO A (em letras muito grandes) e por baixo letra ainda maior, 5 € . Hmmm... valia a pena. Como até precisava, escolhi um de que gostei. Já perto da caixa fui confirmar e li 20 €. Como?? Voltei a aproximar-me do cartaz, e lá estava, entre a linha do Tudo a e a linha dos 5€ estava, em letra bem pequenina, escrito partir de . Não era mentira que estava lá «Tudo a partir de 5€». Se calhar em 10 havia 2 de 5 €.
Este tipo de jogo é fatigante. Não se está entre pessoas de bem.
Hoje já não oiço tanto essa conversa das mulheres «gostarem» de fazer compras, talvez porque já vemos muito mais homens a empurrar carrinhos. E compreendem a canseira que dá detetar tanta armadilha. Uma guerra quase diária.


Não deviam ser 9 em cada 10 a usar o sabonete Lux, mas que inocência de anúncio!

Cereja

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Reflexões

Gostava de começar com um texto excelente que a Isabel Faria deixou no facebook. Diz  aquilo que eu gostaria de ter dito  * que neste caso gravíssimo do descontrolo florestal todos fomos culpados, porque, em certa medida, não levamos suficientemente a sério. Mesmo os mais activos e comprometidos politicamente não se preocuparam o bastante - fazíamos manifestações, abaixo-assinados, até greves, por questões laborais, problemas de saúde ou educação, mas a floresta era para 'os ecologistas' eles que se ralassem. Eu não atiro a primeira pedra. reconheço.
Mas há coisas de que oiço hoje especialistas falarem pela primeira vez, talvez porque 'hoje' têm tempo de antena, e oiço outras vozes, de há muitos anos. Tenho uma grande amiga que nasceu numa aldeia. Filha de pais rurais e sem muitos meios viveu na aldeia até aos 13 ou 14 anos quando começou a trabalhar (!). Refere que os terrenos dos pais e vizinhos estavam sempre limpos, e esses pequeníssimos agricultores até recebiam paga para 'permitir' que lhes limpassem as matas, porque se aproveitava tudo. A erva para comida do gado, tudo o que fosse galho ou restolho para o fogão e aquecimento. Os terrenos não ficavam com nada que pudesse arder, mas ela já há anos que dizia que essa limpeza agora sai caríssimo!
No outro dia ouvi na TV o eco das palavras da minha amiga, na voz de um engenheiro silvicultor, quase as mesmas palavras que ela usava. Uma das sugestões dele, era que os resineiros que só têm trabalho 8 meses por ano fossem pagos os outros 4 meses pelo governo para esse trabalho de limpeza do restolho.
Porque uma das coisas que eu não sabia era o peso do privado na posse de floresta ou, dito de outra forma, a pequeníssima parte  pertencente ao Estado. Afinal cerca de 85% da floresta portuguesa está em propriedade privada,apenas 3% pertence ao Estado, os restantes 12% são baldios.
Parece que a percentagem pertencente ao Estado é uma das menores da Europa. Três por cento! Ou seja se a posse é privada a responsabilidade de cuidarem deles também é «privada». O que complica muito essa responsabilização quando, pelo que se sabe agora, muitos proprietários nem sabem onde estão as suas terras 
Desmazelo? Confusão. Respeito total e absoluto pelo direito de propriedade? Ficamos de boca aberta de espanto. A propriedade é sagrada e este ponto?! 

Talvez pelo pior dos motivos agora haja um grande safanão. 
Nacionalizem tudo e devolva depois  a quem provar a sua posse. E com obrigação de cuidar verdadeiramente dela.  É certo que isto piorou muito com o cultivo do eucalipto que cresce depressa, dá lucro com a venda da madeira, mas é muito inflamável. É urgente cortar os que existem e não se plantar mais, mas não chega. É toda uma mudança, até de mentalidade, que se tem de fazer. As matas devem ser limpas como a nossa casa.
Afinal o nosso país, a nossa terra, é a nossa casa.

Cereja

* procurar o texto dia 21/
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terça-feira, 20 de junho de 2017

O Horror

Tinha vários textos em rascunho para deixar aqui no blog quando me apetecesse, mas agora não me apetece, sinto que neste momento até é de mau gosto publicar coisas leves ou engraçadas. Só me é possível pensar no pesadelo que se vive agora na nossa terra. Têm sido notícias sempre e sempre piores, quando se pensava que era apenas uma noite horrível, vamos vendo que o horror continua, mais e mais e mais e o incêndio expande-se e não se deixa controlar.
Mas uma coisa são as notícias, reais, de factos, objectivas, concretas, que são já suficientes para nos deixar apavorados. As audiências já só podem ser enormes, é impossível não o serem.
Portanto não é preciso serem aumentadas com os relatos de jornalistas como abutres a alimentarem-se do desgosto alheio, apanhados com o mais profundo sofrimento. E, infelizmente, todos, ou quase todos, ficamos de boca aberta com a inacreditável falta de ética jornalistica que muitos dos nossos repórteres mostram. Muitos. Também ouvi reportagens correctas, de jornalistas que correm riscos físicos para trazer informação, e a esses agradeço o esforço e aplaudo-os.
Mas.
Há já vários anos, quando a Diana Andringa foi presidente do Sindicato de Jornalistas, falando exactamente de ética ela disse-me que fazia parte das normas nunca se entrevistar ninguém que estivesse debaixo de grande emoção. Uma questão de respeito, creio eu. Recordo essa conversa muitas vezes. Fazia sentido.
Se calhar já nessa altura, há mais de 20 anos, a regra não se cumpria completamente. Mas, desde há uns tempos, com os tabloides portugueses e a tv também taboide, na verdade faz-se exactamente o oposto, provoca-se a emoção antes de a pergunta! Até parece que se o entrevistado não estiver debaixo de uma emoção extrema, de raiva, de paixão, de medo, de susto, é tempo perdido falar com ele...
A procura do sensacionalismo, como se a realidade não fosse suficiente, é constante. E não sou a única a pensar assim. Deu brado, com tanta repercussão nas redes sociais que já se abriu um inquérito na  Entidade Reguladora para a Comunicação Social a reportagem da TVI protagonizada por Judite de Sousa, que falava ao lado de um corpo. Não se entendia a falta de sensibilidade, tanto mais vinda de uma pessoa que já passou por um luto doloroso e foi respeitada no seu desejo de não ser exposta na dor. E que é professora de comunicação social! 
Mas foi um caso entre muitos. Demasiados! Expliquem-me como é possível fazer uma entrevista (?!?) a alguém que perdeu a mulher e duas filhas com 12 e 15 anos horas antes! Porque se insiste em perguntar «Como se sente?» a gente que tem de estar de cabeça perdida, louca de dor. A sofreguidão de captar clientes aos outros órgãos de comunicação social não pode justificar tudo!
.......................
Afinal entre estas duas capas qual a que nos chama a atenção?
Qual a que tem mais impacto por ser inesperada?


Cereja

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Outra vez a educação

Volto sempre à vaca fria. A educação. Por educação não estou a pensar na escola, e sim no que se aprende desde bebé na intimidade da família, mais importante na minha opinião. Podemos sempre completar a escolaridade, há gente bem idosa que aprende a ler e escrever, mas o comportamento é moldado na infância.
Li há poucos dias um post da minha amiga Isabel Faria, no facebook. Relatava, no seu estilo pessoalíssimo, uma conversa que ouvira num café. O post,  não teve assim lá muitos comentários ou 'gostos', teve alguns é claro, mas merecia mais. Dizia ela: Quando ouço algumas conversas entre filhos adolescentes e pais de filhos adolescentes, ou pouco mais que isso, dou-me conta que sou mesmo muito careta. E que tive mesmo muita sorte. Acabei de fugir do café sem saber se me apetecia mais dar um grito na pirralha que dizia à mãe aos gritos "sei lá se vou jantar ou dormir a casa pá,, como e durmo onde quero..." Ou um tabefe à mãe que lhe pede em voz baixa e vacilante "Mas se puderes avisar...para eu poder dormir descansada...E tem cuidado com o multibanco...não percas esse também... ". São todos assim, ainda ouvi a mãe dizer à amiga...enquanto esta acenava com a cabeça que sim. Podia desmentir a senhora...mas, na volta, comigo ela ainda levantava a voz...
Eu não ouvi esta menina, mas tenho ouvido outras ou o relato de pais desconcertados sem saber como responder a atitudes destas. A verdade é que isto é uma semente que é plantada cedo. Recordo um menino num infantário, quase bebé, aí com uns 2 anos, que chamou a mãe que estava afastada a falar com alguém. Ela acorreu, apressada, e baixou-se para ouvir o que ele queria. Ele balança a mão e dá-lhe um estaladão que deixou uma marca na cara... A mãe, faz um sorriso amarelo, e diz-lhe «se era para isto escusavas de me ter chamado». Ouvi eu! 
Na história da teenager está tudo. Para começar o tom com que fala com a mãe. É um tom com que não deve falar com ninguém e/mas sobretudo com alguém mais velho. Quando eu era criança, entre raparigas usava-se o termo «coisinha». Chamávamos umas às outras, não sei como nasceu a mania. «Oh coisinha, vens ali comigo?» «Oh coisinha, fizeste o tpc de matemática?» Mas era ternurento, um modo carinhoso de falar. Certo dia, distraída, disse a uma avó «Oh coisinha, o que é o lanche?» e recebi um olhar que me pôs no lugar! «Coisinha?!!! Achas que tenho a tua idade?!». Fiquei logo em sentido. Numa família e deve haver hierarquias, por mais afecto que exista. 
E tem de haver autoridade. 
A inexistência de autoridade gera um caos. Não há limites para nada, como se tudo fosse permitido 'porque-sim' e ainda por cima estes jovens desatinados não se sentindo obrigados a nada, não tendo de prestar contas de coisa nenhuma a ninguém, decidem que têm todos os direitos. A menina desta história ouvida no café, declarava mal-criadamente que não tinha de dizer à mãe para onde ia, nem o que fazia, mas tinha acesso à conta da família com o cartão multibanco... Imagina-se que adulta vai ser? 
Comecei por falar no tom usado e na linguagem, porque me parece importante. Há regras que parecem em vias de extinção que não são de etiqueta são de simples cortesia. Cumprimentar com Bom Dia, dizer 'por favor', 'obrigado', 'com licença', mostra que nos importamos com os outros.
Simples.
Não se vive sozinho, vivemos em sociedade. 



Cereja

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Luxo

Ultimamente ando um tanto 'revivalista' só me dá para escrever coisas a relembrar outros tempos, e tenho-me refreado resultando assim que não escrevo nada 😖
Parvoíce. Vou portanto deixar 'em linha' um post já escrito há uns dias.
Então «é assim»: Na minha juventude havia pessoas bens vestidas e outras mal vestidas. O considerado bem vestido nem sempre se sentia cómodo, porque a roupa cómoda era a prática, digamos a-de-trazer-por-casa. Não se tinha 'inventado' o fato-de-treino como roupa descontraída, portanto a tal roupa de estar em casa era uma mais velha, ou de um material de pior qualidade. Como não havia 'pronto a vestir' as famílias de classe média, contratavam uma costureira que fazia os vestidos das senhoras e a roupa das crianças. E também aproveitava o que já estava velho e roto, muitas vezes até pondo remendos. Os pobres, que andavam mal vestidos com roupa de trabalho, até podiam usar roupa remendada, era natural.
Nos anos 80, creio eu, apareceram umas jeans manchadas e até rasgadas! Lembro-me de quando vi o meu primeiro pensamento ter sido «coitada, que azar, umas calças tão boas; mas vá lá, concertam-se e ela não está muito aflita». Não estava, é claro, tinha-as comprado assim!
Era moda! A rebeldia jovem assumia-se pelo visual, era-se 'contra' mas... artificialmente, o que faz toda a diferença. Não eram fatos velhos e por isso estragados, eram fatos novos, falsamente estragados e caros (!). E essa moda de falsos pobres, nunca mais parou. Afinal as rastas, também uma moda de penteado onde o cabelo parece desgrenhado e até sujo, leva tempo a fazer e a... manter limpo!
Ora o que me faz alguma impressão é o preço destes produtos artificialmente «estragados». Li a notícia de que um par de tenis custariam 1.500 euros. Exactamente, mil e quinhentos euros. É claro que não eram uns ténis quaisquer, estavam todos rotos. Parecia terem vindo de um caixote do lixo. Imagino que se os tivéssemos deixado num daqueles depósitos de roupas usadas para serem aproveitados para quem não tem que vestir, nem seriam aproveitados.
Mas foram concebidos por John Galliano. Valem 3 salários mínimos.
Ou o saco quase igual ao do Ikea a 2.000 euros, cerca de 4 salários mínimos.
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Parece escrito com azedume, e não é, palavra.
É espanto de viver neste mundo.
Onde as desigualdades apresentam estes aspectos absurdos, ter de se ser muito, muito rico, para usar peças que imitam os muito pobres. Este tipo de luxo faz-me impressão, o que querem...? 



Cereja

sexta-feira, 2 de junho de 2017

No Dia da Criança


Ontem foi Dia da Criança.
Não sou lá muito entusiasta dos «dias de», gosto do dia da mãe, do pai, do trabalhador, da mulher, e pouco mais. Até porque muitos deles são descaradamente «dias» inventados pelo comércio para aumentarem as vendas. Mas, adiante.
O Dia da Criança é um bom dia para se pensar nas crianças, não (só) para lhes dar prendas, mas sobretudo para refletir no que falta fazer para lhes assegurar uma vida que valha a pena.
Ontem receberam uma grande prenda envenenada: o sr. Trump na sua ânsia de um lucro imediato sem olhar a mais nada, propõe-se estragar ainda mais o mundo em que vão viver. Nem há palavras para classificar tanta maldade.
Mas, na nossa terra, num país que gosta tanto de crianças, e se esforça por as proteger, li uma notícia que me deixou gelada e até me custa acreditar! Dizem-me que num só ano 43 crianças candidatas a adopção, que já viviam com os futuros pais adotivos foram devolvidas. Como? Devolver uma criança?!!!
Como retoque final é-nos explicado que 20 delas tinha menos de 2 anos. (realço este pormenor porque há quem considere que adoptar um adolescente pode ser problemático, é uma fase difícil, e a adaptação nem sempre corre bem)
Eu sei, (ou sabia...) que os serviços de adopção eram exigentes na selecção dos candidatos. Muitos não são aceites. E, daquilo que eu julgava saber, irritava-me que existisse um período demasiado grande até a adopção se concretizar, porque para uma criança uma espera de dois ou três meses já é uma parte importante da sua vida.

Portanto, até ontem, eu julgava que 'os maus da fita' eram os serviços que exageravam o rigor na selecção, quando se poderia entregar muito mais crianças a pais responsáveis que os desejavam muito.
Pelos vistos, isso não acontece. Considero uma maldade muito grave abandonar-se um animal de estimação, como creio já aqui ter dito. É um sofrimento horrível para o animal e um verdadeiro crime. Mas uma criança??? É certo que não é «abandonada» é reenviada para o sítio de onde veio, tal como ir à loja entregar a boneca que se comprou porque afinal ela não era como se tinha imaginado.
É certo que não sabemos o que motivou esta «devolução do produto» e consigo imaginar uma situação inesperada de tal gravidade que faça voltar tudo atrás (morte de um dos pais, desemprego inesperado) mas 20 situações ?! Causas tão imprevistas que quando a criança foi lá para casa não se podia imaginar?

Não entendo.
E arrepia-me. Como é possível?


Cereja

terça-feira, 16 de maio de 2017

«Não me sinto um herói nacional, isso é para o Ronaldo»


Pronto! Se a nossa autoestima não está alta então nunca estará!
Apesar de detestar os estereótipos sobretudo quando classificam povos, aceito que «os portugueses» são excessivamente auto-críticos ☺ 
Aceita-se e até se aumenta as críticas que nos fazem. Irritante. E cansativo também porque até parece que em Portugal raramente se faz uma coisa que nos orgulhe. Ora bem, se no espaço de um ano termos ganho 2 troféus que indicam que nestas modalidades somos 'os melhores da Europa' - falo, é claro, no Campeonato de futebol e no Eurofestival - não ficamos com uma boa autoestima é porque nada a faz subir.
Houve quem resmungasse. Quem achasse que não tinha importância.Olhem, faço minhas as palavras da minha amiga Isabel. Mais nada.
Por mim gostei imenso do resultado do concurso da Eurovisão. Imenso. Gostei da canção, sobretudo da música embora a letra não envergonhe ninguém. Gostei da interpretação. Gostei da apresentação. E pasmei que aquilo que será visto como uma canção «não festivaleira» tivesse dado aquela reviravolta aos votos habituais. Porque foi mesmo uma dupla vitória, foi apreciada pelo juri oficial que nos deu o primeiro lugar e, o que mais pasma, pelo juri' popular, que votou por telefone e sem poder votar no seu próprio país. Uma unanimidade que só nos pode alegrar.
Eu, nada entendida em música, aprendi várias coisas da área. Não fazia a menor ideia o que era o «pop tradicional» ou «pop clássico», Quando ouvi essa referência em relação àquela música não percebi nada -  pop? pensei eu, mas que pop? . Senti sons de jazz, e lembrou-me as valsinhas brasileiras sim. Afinal fiquei com os meus conhecimentos aumentados ☺
E gostei também muito, pelo menos até agora, do comportamento do cantor e irmã autora. O Rui Tavares escreveu ontem no Público, que o gesto agarotado de Salvador de colocar o troféu na cabeça no final, tinha uma leitura simbólica «Como é que eu meto na cabeça que ganhei o prémio sem deixar que o prémio me suba à cabeça?» Ora até agora tem conseguido.


Mais um motivo para os parabéns!

Cereja

domingo, 7 de maio de 2017

Cuidados aos mais velhos


Há uma mania, pensando talvez numa simetria como se o início de uma vida fosse idêntico ao seu final mas exactamente ao contrário, que quem se ocupa de pessoas idosas tem frequentemente e que é tratar alguém com muitas e muitas dezenas de anos como se fosse uma criança. Com ternura, sem dúvida, exprimindo até carinho, mas olhando de cima para baixo, numa protecção ...ofensiva.
Direi até que se usa uma atitude que uma criança dos tempos de hoje (rebeldes e independentes como a maioria é) não ia aceitar.
Li recentemente num portal brasileiro chamado «Portal do envelhecimento» uma opinião que partilho em relação a isto : Falar com idosos como se fala com um bebé é desrespeitoso, não fofo!
Há vários filmes bastante engraçados onde se imagina um adulto voltar a ser criança ou uma criança passar a ser adulto. Ainda me lembro de um, chamado De repente 30 anos!, Engraçado. Uma adolescentezinha que ao fazer 13 anos, descontente com a sua vida, deseja ter 30. Por magia isso acontece, e é uma enorme decepção, claro. Se isso acontecesse aos assistentes sociais, enfermeiros, os vários cuidadores de pessoas idosas e uma manhã acordassem com 80 anos e ouvissem que falavam com eles em «Elderspeak»?! * (existe mesmo, está catalogado!)  Ai, ai, ai.... Que susto e surpresa desagradável.
O modo de comunicar está baseado em sentimentos, como se sabe. Não o que se diz, mas o «como» se diz. Evidentemente que se a pessoa a quem se fala está a ouvir mal, temos de falar alto. Isso em qualquer idade, não é? Se nos cruzamos com um nosso vizinho de prédio e notarmos que está a ouvir mal levantamos o tom de voz, mas não dizemos «Booom Diiia... Como está meu amiguinho? Se calhar não fez um bom ó-ó , aqueles maus do 3º esquerdo fizeram taaanto barulho!» Mas afinal é o que muitas vezes se usa para com uma pessoa mais velha.
A intenção é boa. Acredito que seja por bem, por isso imaginei como seria se uma manhã estas pessoas bem intencionadas acordassem «De repente, já com 80!» como no filme. É verdade que há ternura mas falta a componente do respeito. E quando há fragilidade associada à idade avançada, o respeito é apreciado, não tenham dúvidas.




* Elderspeak, é caracterizada por uma fala lenta, entonação exagerada, volume elevado, com uso intencional de vocabulário simples e reduzida complexidade gramatical, mudanças no afeto, substituições de pronomes (“como estamos hoje?” Em vez de “como está D. Alice? por exemplo), diminutivos e repetição

Cereja

sábado, 6 de maio de 2017

«Não é justo!»

Encontrei há pouco tempo este vídeo.
(é engraçado porque o vídeo é falado em francês e tem as legendas em inglês, mas não sei a técnica de colocar novas legendas de modo que fica assim mesmo; creio que todos entendemos 😊)
Faz pensar. Um 'monopólio', famoso jogo capitalista, utilizado aqui para ensinar às crianças que as desigualdades sociais são uma profunda injustiça.




Assim vê-se bem que... não é justo
Como é??? Metade começa com 1500 euros e a outra metade com 750?! A menina branca recebe uma carta no jogo para não ir para a cadeia? Mas o menino negro começa o jogo já preso?!
Não pode ser! Não há direito!
Pois é.
A menina ganha menos 23% de ordenado do que os meninos, pelo mesmo trabalho, e os meninos negros não podem comprar os imóveis do jogo com a mesma facilidade dos outros. Além de que um menino com muletas não vai poder comprar as estações de comboio 😲 porque não tem acesso. (parece que em França 30% não tem acesso a pessoas com mobilidade reduzida, e cá?)
Achei muito interessante.
A brincar, a brincar, mas ensinam-se coisas.
Oh Dona Marine, é assim, não é?

Cereja

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Escorregar para a direita cada vez mais depressa.....


Os tempos andam maus.
Nuvens escuras e trovoada, simbolicamente falando. 
Mas tem vindo a escurecer de mansinho. Começou pé ante pé. Quase nem se deu conta da cambalhota enorme dos países do norte, os campeões da social-democracia, que iniciaram o conceito de «estado social» sendo olhados com curiosidade ( e desconfiança! ) por muitos outros países. Modelo Nórdico, um sucesso, um exemplo. Os seus habitantes viviam com uma tal confiança no seu bem-estar que se deram ao luxo de torcer o nariz aos impostos que pagavam. E, como uma coisa leva à outra, começaram a votar e a eleger quem propunha uma política que baixaria os impostos... e consequentemente os benefícios sociais. E assim a Dinamarca tem agora um governo de direita, a Suécia também, e a Noruega também. Ainda não chamam a atenção, mas estão lá.
A Inglaterra tem um governo de direita, e houve um susto com as eleições holandesas! Por um triz esteve quase a ganhar um «pequeno Trump», populista, nacionalista, racista, a vitória foi para um Partido Liberal, de direita embora não extremista.
E veio a «bomba» das eleições americanas. Poucos contavam com a vitória de Trump, mas aconteceu e ele está a cumprir tudo com que nos ameaçou e ainda mais. Sem travões, o país mais poderoso do mundo, é um pesadelo vivo.
Ou seja, primeiro devagar, depois já em passo acelerado, a Direita governa o mundo.
Agora foi a vez da França. Jean Marie Le Pen já tinha tentado há anos chegar ao poder, e foi confrontado com uma França unida que o enfrentou. Agora a filha aparece com muito mais força, apoiando-se no terrorismo que lhe tem dado muito jeito, e na xenofobia de que muitos franceses sofrem estimulada pela crise dos refugiados. Receou-se o pior (e depois de Trump tudo-parece-possível) mas ela chegou à segunda volta resvés, com pouco mais de um ponto sobre o terceiro classificado.
Posso estar a ver mal o filme, mas mesmo que se «percam» muitos votos, não vejo como pode a Le Pen, de momento com menos 2 pontos do que Macron, que irá ainda possivelmente somar cerca de mais 26, virar o resultado... Daí talvez não me sentir tão indignada com a posição de Melénchon.
Esta posição tem sido severamente criticada. Na noite eleitoral, quando praticamente todos os partidos declararam de imediato que votariam em Macron na segunda volta, ele não o disse e reservou a opinião. Nem se queria acreditar! «Votez escroc pas facho!» dizia ele há uns 15 anos. Então??? A desilusão tem sido enorme, com alguns exageros, (ou post-truth?) pois ele não disse tanto poderia votar Macron como Le Pen, e sim que não sabia se preferia a abstenção, voto nulo ou voto em Macron. Não é o mesmo. Nunca propôs o voto Le Pen, pelo menos nunca o li ou ouvi.
Mas há que ter cuidado. Quem odiava tanto a Hillary Clinton que preferiu o Trump, estará estarrecido agora. 
E isso não pode acontecer em França!!!



Cereja

domingo, 23 de abril de 2017

Dias de hoje

Encontrei este vídeo mais ou menos por acaso.
Há muitos anos, quando estive envolvida num projecto ligado  à «Convenção sobre os Direitos da Criança» participei num 'Encontro' onde diversas ONGs apresentaram trabalhos interessantes e trouxe uma cassete de vídeo com várias canções muito criativas (um dia tenho de passar para dvd para poder voltar a ve-lo...) Uma das canções mais engraçadas era de uma criança que desejava tornar-se visível. Sabia bem que era invisível porque os pais não a viam, andavam nas suas ocupações como se ela não existisse e o filmezinho mostrava-a a chamar a atenção de várias formas, a saltar, agitar bandeiras, fazer o pino, mas sem conseguir coitada, era... transparente! Quando finalmente se conseguia materializar, era uma alegria e a história acabava muito bem.
Ora a menina deste vídeo é muito mais moderna, já é da época do smartphones. E tal como a outra criança queria que a vissem.
Só diz verdades!



A relação de qualquer um de nós com um telemóvel (mais ainda se for tipo smartphone...) é muito particular e algo de inimaginável antes de eles terem aparecido.  Atenção que estou a pensar numa pessoa «normal» nem falo num teledependente que é outra situação. 
De um modo geral, quando toca o telemóvel interrompemos de imediato que estamos a fazer para o atender, não me lembro de nada que suscite uma atenção tão imediata!
Se saímos de casa esquecendo-nos de o trazer ficamos preocupados, falta-nos algo, imagina-se situações de urgência complicadas.
Se ele avaria ou o perdemos é um desastre, que implica uma rápida substituição.
E, frequentemente, comparamos o nosso com o dos amigos de modo a valorizar o nosso - ou é melhor, mais perfeito e completo, ou foi mais barato o que pode ser um valor 😊
... resumindo é mesmo verdade que se tem uma relação afectiva com uma maquineta!
..........
Coisa que a menina do vídeo captou muito bem.
Um alerta excelente.

Cereja

sexta-feira, 21 de abril de 2017

New age

Agora, por explosão da discussão sobre as vacinas e seus possíveis malefícios volta a estar na berlinda a perspectiva do pensamento New age
Muito bem, sobre isto não sou isenta sou mesmo parcial! Porque lhe chamam «novo» quando afinal é antiquíssimo? Claro que a Era do Aquário, dos Peixes, da Água, é bonito, é romântico, e é simpático e estar contra muita coisa que até é reprovável, mas seja como for há o retorno para dois mil anos atrás, não é? Não é exactamente novo... Mas quando afirmo que sou parcial é que aceitando, como será normal que o faça, tudo o que é diferente de mim e neste caso reconhecendo alguns pontos interessantes e positivos neste pensamento, não aceito e considero até perigosos alguns pontos de rejeição da ciência e sobretudo (sobretudo!) estou pelas pontas dos cabelos com o seu proselitismo!!!
Já não posso mais.
Quando me começam a pregar sobre o que posso ou não comer, o que devo usar para vestir, como é que me devo tratar, sinto a mesma irritação de quando sou abordada pelas Testemunhas de Jeovah (já agora eles também não aceitam transfusões de sangue, nem vacinas). Que nervos! «Deslarguem-me!» Não quero ser convertida à sua 'filosofia'(?) quero poder escolher a comida de que gosto, usar o que me apetece, desde que não prejudique os outros.
Com toda a sinceridade, acho que estou informada. Quando insistem comigo explicando que se não estou de acordo em partilhar aquela filosofia em absoluto é porque sou ignorante, isso só me irrita mais.
OK, não tenho nada contra o animismo, os metafísicos, os espiritualistas, a simbiose com o meio ambiente, e essa coisa dos chacras, dos signos astrológicos, etc e tal. Até sei qual é o meu signo e o que é suposto eu ser por ter nascido nesse dia... 😉
Tudo isso para mim é uma espécie de fé. Acredita-se. Ponto final. Cada um deve ser livre nas suas crenças. Quando não se tornam fundamentalistas!
E é aqui que está o busílis. O «fundamentalismo». O pensar-se «se o que eu penso e sinto está certo, tenho de forçar todos os outros s sentirem o mesmo»
Não, obrigada!
O meu caminho não é por aí.


 Cereja

sexta-feira, 14 de abril de 2017

...e o andar ?

Nas cidades deixou-se de andar. A não ser nos ginásios.
Cada vez que constato isso, um botão (ou um clik como se diz hoje) remete-me à infância e juventude o que é irritante porque me sinto velha se pensar «no meu tempo» como modelo, o que não é verdade não era modelo nenhum. Mas em certas coisas os hábitos antigos eram realmente mais saudáveis.
Acabei de ler uma notícia, completamente fait-divers, que informava que uma cadeia de hipermercados estava a expandir-se e a criar também supermercados. Tanto quanto sei, a diferença entre o hiper e o super, é que o primeiro tem uma superfície muito, muito grande, e portanto situa-se ou nas periferias das cidades ou ocupando todo um andar de um Centro Comercial, o outro, o que é super pode funcionar em qualquer bairro porque é proporcionalmente bem mais pequeno. Comércio de proximidade.
Como eu disse a notícia não tem qualquer relevância, gostei apenas porque irá fazer alguma concorrência aos gigantes da espécie  [pingos-doces e mini-preços] o que pode não ser mau. E ia 'sair da notícia' quando olhei para o primeiro comentário que lá vinha e e a crítica era «e o estacionamento???? paga otário!». Nem mais. Como era numa zona de estacionamento pago (como quase toda Lisboa agora...) o leitor saiu-se logo com essa, referindo creio o facto de nos hipers não se pagar estacionamento por terem os seus parques, e ali ia-se pagar esse extra - se houvesse lugar, claro, porque isso é duvidoso.
Parece óbvio que se é um comércio de proximidade é para se ir a pé. Isto pensava eu. Se é no meu bairro, vou e venho às compras simplesmente como a minha mãe ou avó faziam. Aliás, diferentemente das mulheres desse tempo, hoje até temos uns sacos com rodinhas para levar as coisa até casa. Mais fácil.
Mas antigamente era normal a deslocação a pé, até em distâncias que hoje nos parecem enormes. Porque, para quem nasceu no segundo milénio, isso, o 'andar' já é desporto 😊 . Nós 'andamos-a-pé' nas caminhadas, mas vê-se pessoas que se metem no automóvel para ir ao seu ginásio que é bastante perto e lá ficam meia hora a 'andar' na passadeira mecânica. Não é anedocta 😁 !!!
Bom, nas aldeias ou zonas menos citadinas ainda vemos gente a caminhar para chegar a qualquer lado, umas distanciazinhas mais razoáveis. E não precisam que os médicos insistam em que devem andar meia hora por dia, têm mesmo de o fazer... Afinal é o modo mais fácil de «fazer exercício» tão recomendado hoje e por algum motivo o recomendam, é sinal de que usualmente não se faz!
A verdade é que há cem anos não se usava essa expressão, a vida de todos os dias já nos fazia mexer bastante. Uma simples dona de casa andava horas para trás e para a frente a varrer, a limpar, esticava-se em «alongamentos» para lavar os vidros das janelas, para arrumar prateleiras altas, agachava-se, ajoelhava-se para lavar o chão, subia escadas carregada com objectos pesados, fazia movimentos repetitivos com os braços no tanque da roupa, etc, etc. Um ginástica diária.
E as crianças faziam muitíssimos mais jogos onde tinham de se mexer, a sério, não era cá o dedo a deslizar no ecrã de um tablete! Era às escondidas, à apanhada, saltar à corda, a macaca a pé coxinho, tantos jogos onde tínhamos de nos esticar, encolher, equilibrar, correr, saltar, todos os músculos eram treinados. Evidentemente que o espaço era outro, a liberdade também, mas é mais uma questão de mentalidade.
Essa mentalidade que fica bem visível com a pergunta do leitor indignado com a inauguração do supermercado que o obrigava a ir a pé da sua casa até lá por não poder estacionar à porta.....


Cereja


quinta-feira, 13 de abril de 2017

Esqueceram-se que é ano de autárquicas...

O Poder Local é um poder delicado. Talvez por estar mais perto das pessoas as relações entre os municípios e os seus munícipes são bastante diferentes das relações entre o cidadão normal e o governo. Só por essa estranha relação se pode entender que um popular autarca após ter sido preso, julgado, cumprido pena por falcatruas financeiras possa voltar a concorrer ao seu conselho com boas perspectivas de reeleição . Aliás a frase «rouba mas faz» como justificação para o apoio noutros casos conhecidos, é extraordinária mas ouve-se 😏
Mas outras vezes parece haver as ideias conhecidas como tiro-no-pé.
Para mim creio ser o caso que vai ser conhecido como o «estranho caso das casas degradadas» que parece ser apenas um pretexto para aumento do IMI pelas Câmaras em questão. Como dizia uma pessoa, admirada e conseguindo ter humor: era simpático terem-me avisado de que estava a viver numa casa degradada.
É que o termo é pesado! Casa degradada???! Imagina-se de imediato paredes rachadas e sem pintura, interiores estragadíssimos, canalização rota, fios eléctricos à vista, aquelas imagens que nos enchem de pena de quem lá vive... A notícia que li, era ilustrada com a foto do que se presume ser a casa da pessoa que pedia para ser avisada de que estava a viver numa casa degradada, e aquela bela vivenda faria a cobiça de imensa gente. Bom. Li depois os esclarecimentos de um Presidente da Câmara um tanto embaraçado, que explica que a lista dessas casas (parece que na zona de Sintra são certa de 10.000) tem como referência o facto de não fazerem obras de conservação há mais de 8 anos como devem. 
Ah! Está explicado. Estão degradadas porque não fizeram obras. E precisam de obras? Isso não interessa, para não estarem degradadas têm de fazer obras e ponto final, ou então aumenta o IMI em 30% e já não faz muito mal a degradação, até já podem cair em ruínas porque pagaram mais 30% e tudo entrou nos eixos.
Eu percebo. As Câmaras têm despesas e precisam de viver. Mas este disparate a poucos meses de eleições, oh senhores presidentes, parece-me que a oposição agradece! Bem hajam!

Descubra as diferenças






Cereja

terça-feira, 11 de abril de 2017

Melhorou, mas enfim....

Há poucos dias li «Portugal sobe 14 lugares em ranking internacional» Boa! Vou a correr informar-me do que se trata. Afinal o que diz é que Portugal melhorou em 2017 no 'ranking' sobre a fraude nas empresas, por outras palavras o que parece é que há menos corrupção... confessada.
Segundo a empresa que faz estes inquéritos, em 2015, situava-se em 5º lugar numa lista de 41 países analisados, tendo 82 % dos inquiridos admitido suborno ou práticas de corrupção. Agora, passou para 19º lugar quando 60% o admitem. Nota: o inquérito era perfeitamente anónimo, podemos aceitar que as respostas eram sinceras.
Isto deixa-me boquiaberta...  Estive a ver que países foram analisados. É assim : há países com mercados emergentes, contei e são cerca de 25, apanha a Europa de Leste, e Omã, Nigéria, Índia e África do Sul, mas não apanha nenhum da América do Sul.  E os países com mercados desenvolvidos como Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, uns 15 e mais Portugal.
Tenho de respira fundo antes de pensar friamente. Como o inquérito é anónimo será que as respostas incidiam sobre o que se pensava, se imaginava, que os outros faziam...? Não era real? (wishful thinking meu...) Mas não deve ser isso, afinal o inquérito decerto com as mesmas perguntas e nos mesmos moldes foi aplicado aos outros países.
...........

Talvez por ser ingénua, faz-me imensa confusão a corrupção, que se seja tentado, isso percebo, mas que não se imagine de imediato as consequências de ser apanhado. Vale a pena? Um ladrão que comete um roubo sabe a diferença entre o bem e o mal, e que o mal é castigado, também arrisca é claro mas parece uma dimensão diferente. Aqui trata-se de empresas e empresários.
E falta de vergonha.
E de países mais ricos do que outros. Mas não se trata apenas de riqueza, o que se pode pensar lendo este triste ranking é a importância de um Estado Social. Não é coincidência aqueles onde quase não existe corrupção serem os países nórdicos onde até agora existia um Estado Social. Menos desigualdade, provoca mais honestidade afinal.







Cereja








terça-feira, 4 de abril de 2017

O desporto-rei... dos cifrões

Quando li Treinador da equipa que perdeu por 12 -0 foi detido fiz um sorriso de espanto por pensar que era gralha e ainda comentei «Não era preciso tanto, bastava a 'chicotada psicológica'» vulgo 'despedimento' que me parecia que o homem merecia. De facto perder por doze-a-zero era obra!
Como a história era engraçada fui ver o que era aquilo. Ah! Já percebo.
Aqui entre nós o homem além de corrupto era parvo.
Parece que as apostas sobre resultados desportivos ultrapassam muito o que eu recordava quando se começou a cantarolar o slogan Vamos Jogar no Totobola. Agora há apostas que são podem ser fortíssimas, portanto os resultados começam ser falseados. Já há uns tempos, em Fevereiro creio, houve um cheirinho disso por cá, com um jogo entre o Farense e o Rio Ave com apostas de 100 mil euros!  Parece que foi «um cidadão de nacionalidade chinesa» nesse caso, que perdeu a cabeça com o Farense (?) que será clube muito conhecido no oriente 😉
Mas voltando ao caso do 12 a 0 as apostas eram milionárias, e minuciosas.  Por exemplo, 8-0 ao intervalo e 12-0 no final do jogo... In-crí-vel!!! Pelo que conta a história cada jogador recebeu o suficiente para comprar uma casa em Barcelona, mas não dizem quanto recebeu o treinador... Por cá, parece que a Judiciária tem em curso uma operação chamada «Jogo Duplo» e anda a deitar a rede para apanhar peixes de variados tamanhos.
O que muitas vezes me admira na corrupção é como acreditam que não se vem a saber. Como disse acima, no caso do treinador espanhol, além de corrupto era parvo com certeza, como é que não via que um resultado de 12 a 0, era tão inacreditável que ia ser investigado?!
O amor à camisola já parece uma coisa de que ninguém se lembra (até porque as camisolas são caríssimas, os clubes fazem um dinheirão com essa venda talvez por isso mudem tão frequentemente de modelo) os jogadores saltitam de clube para clube e de país para país com toda a ligeireza. Os passes dos jogadores atingem verbas inacreditáveis. E, para além disso tudo, confirma-se agora que a corrupção que pelos vistos vai do caso do presidente da FIFA, Blatter, ao jogo do Farense e Rio Ave é patrocinada pelas máfias do jogo...

Óvalhamedeus!



Cereja




domingo, 2 de abril de 2017

Não são «todos iguais», não senhor

Creio que ter dito por aqui por diversas vezes quanto me irrita a generalização sistemática, e isso (deixem-me generalizar 😏) em todas as áreas. Concluir a partir vários casos, ou até da maioria dos casos, que «é-tudo-assim» é muito fácil e muito errado. Fale-se do que se falar. Isso só é verdade na ciência, no laboratório, e em ciências exactas. Mas pensar-se que certas profissões, certas nacionalidades, certas raças, são assim é um disparate. E, ainda por cima, se formos sinceros, o assim é quase sempre mau ou ridículo. (atenção estou a dizer quase sempre, não estou a generalizar 😊)
O facebook tem uma página chamada Os truques da imprensa portuguesa que faz um belo trabalho. Como o nome indica, eles explicam como é que certas não-notícias ganham credibilidade, e algumas descaradas mentiras podem passar por factos. Como na cantiga: Demagogia feita à maneira / é como queijo numa ratoeira ou seja, o 'queijo' do modo como se apresenta uma história atrai qualquer ratinho desprevenido, ...ou até supostamente prevenido.
Uma das profissões (?) carreiras (?) mais criticadas na actualidade - e não só - é a dos políticos. Parece-me que rivalizam com os árbitros de futebol, com o mesmo cheirinho de corrupção. É certo que infelizmente muitos, muitíssimos, se põem a jeito para essa suspeita, e não só em Portugal. E portanto abrem a porta à afirmação trocista acompanhada de um encolher de ombros - 'enriqueceu? não me admira, é político, são todos iguais, de uma ponta à outra, da esquerda à direita, ora, ora...' sem se reparar que quem perde é a democracia.
A última gracinha do Observador foi subtil e passaria à primeira.
Título: «Sampaio recebeu uma bolsa para financiar a sua biografia, mas ninguém revela valores». Inferência imediata, aliás confirmada pelos comentários* dos leitores - está a ganhar (mais!) dinheiro à custa do Estado. Pronto, são-todos-iguais!!!
Felizmente que «Os Truques» mostram o que está por detrás e desmontam a técnica usada para insinuar uma notícia falsa sem se ser responsabilizado. Não foi ele que recebeu a bolsa e os financiadores eram privados, não tinham de revelar os valores, etc.
É verdade. Mas o mal está feito e quem lê «os Truques» não são todas as pessoas que habitualmente leem o Observador e que já espalharam a suspeita.
Mas fica a questão: Se 'os políticos' por uma fatalidade estranha, se tornam forçosamente venais e corruptos por exercerem as suas funções, é uma lepra que os contagia de imediato, quem é melhor para fazer as leis, governar o país, tomar decisões?! O que se propõe para substituir «os políticos»?
Eu cá não sei.

Cereja

* “a promiscuidade desta gente não tem limites….” “mais um impoluto…” “mais uma chulice do lampadinha…” “vergonhoso!!! mas sem espanto!” “com cancros destes, como é que Portugal poderá ter a esperança de chegar a bom porto?” 



domingo, 26 de março de 2017

...mas porque caem nestas armadilhas?

Acabei de ler nos jornais uma notícia onde se prevê o anúncio de uma guerra. Trata-se do caso de uma casa concedida a um membro do governo mas que era suposto ser atribuída a um membro de uma importante corporação, a dos magistrados.
Confesso que é das coisas que sempre me chocou: por alma de quem é que há pessoas importantes 'com-direito-a-casa'?! Mas porquê? Entendo um pouco o reverso, trabalhadores que façam turnos complicados, ou possam ser chamados com urgência, terem junto do local de trabalho um quarto que possam utilizar. Mas, membros do governo ou magistrados terem subsídio de habitação ou direito a casa??! Isso porque o cargo os afasta da sua morada habitual? E não será assim para qualquer trabalhador? Parece de senso comum que quem aceita um emprego aceita a sua localização, mesmo com profissões qualificadas: médicos, professores, enfermeiros, marcham para onde foram colocados ou não aceitam o trabalho mesmo que sejam penalizados.
No outro extremo, vemos candidatos a certos trabalhos continuarem desempregados porque os locais onde poderiam ter trabalho são tão afastados ( de casa dos pais...) que os obrigaria a alugar um quarto e o salário mínimo que iriam receber não chega para essa despesa.  Mas os senhores juízes não, têm outras mordomias, mesmo que se diga que têm de pagar... um décimo do ordenado.  O seu sindicato explica bem: «o Gabinete de Gestão Financeira tem de colocar à disposição dos juízes, durante o exercício da sua função, casa de habitação mobilada». E, pelo que sei, o mesmo se passa com os membros do governo.
Esta é história, que vai fazer correr tinta, da secretária de estado e da juíza, onde todos vão ficar mal na fotografia. Os juízes porque se vai chamar a atenção para uma mordomia que o público não conhecia e não vai achar graça nenhuma. O membro do governo (que também era magistrada, pelo que percebi) vai desencadear grande celeuma pública da parte de quem já acha que «eles» ganham demais e não o merecem. E isto por uma renda de casa que pode corresponder a um décimo do seu salário? Como é não viu o buraco que estava a abrir...?
Imagina-se bem o que pode pensar um casal de jovens licenciados, a receber cada um pouco mais do smn sabendo que cerca de metade do que os dois ganham vai para a renda da casa, olhando para um membro do governo a regatear essa mesma renda......
Foi um tiro no porta-aviões, se estivéssemos a jogar à batalha naval. 😏

Cereja

sexta-feira, 24 de março de 2017

Lugares comuns para todos os gostos

Nestes últimos dias houve alguma agitação pela frase daquele senhor de nome difícil de pronunciar, [Dijsselbloem, o dobro de consoantes para o número de vogais! ] frase profundamente infeliz, fosse como fosse. Pronto, como justificação lá se explicava que aquilo tinha sido dito durante uma entrevista, num certo contexto, e ele até tinha usado a primeira pessoa «eu não posso gastar o meu dinheiro todo em aguardente e mulheres e pedir de seguida a sua ajuda». Mas era no encadeamento sobre os países do norte da Europa que se tinham mostrado solidários para os países em crise... Lá fica 'a justificação' estragada!
Bem, foi interessante porque Portugal e Espanha e imagino que também a Grécia, não gostaram nada da "metáfora". Grosseiro, arrogante, preconceituoso.
Sobre este tema disse-se muita coisa, alguma com imensa graça, mas tenho de citar o texto mais inteligente que sobre isso li escrito pela Maria José Trigoso no seu facebook
«mas não haverá quem perceba que o Jeroen é apenas mais um triste luterano ou um infeliz calvinista (ou uma desbotada vitima de qualquer outra reforma), muito branco, muito funcionário, totalmente roído pela inveja do que ele imagina seja o paraíso moçárabe? a terra quente onde o sexo não é pecado mas festa, o vinho corre das torneiras, doce e vermelho, e o sol doura a pele do corpo e ilumina a mente?
eu por mim tenho pena dele. mas também de nós pelo pouco que nos resta dessa escondida fantasia protestante, branca, e masculina.»
 
Fica arrumado numa penada. Os lugares comuns que correspondem às diversas fantasias quando se classifica um povo ou uma raça generalizando!
Encontrei depois esta imagem que também considerei excelente. Vejam:


É apanhada aqui grande parte daquilo que «se arruma» em caixinhas sobre as características dos cidadãos da Europa. E sempre assim foi, olhar, crítica ou paternalisticamente, quem não está no Primeiro Mundo muitas vezes com pena mas aceitando que-a-culpa-é-deles. Aos anos que os desenhos animados tipo Walt Disney representam «o mexicano» a dormir a sesta encostado a um muro, com um enorme chapéu na cabeça. A imagem da preguiça. Preguiça pobrezinha, claro, se estivesse estirado à beira de uma piscina com um copo na mão não seria  preguiçoso nem mexicano. E a imagem de «estar à sombra da bananeira» também não corresponde aos povos diligentes e trabalhadores, as bananeiras são tropicais, não é? Aliás o «dormir à sombra de uma árvore» só se imagina no sul. Já pensaram em dormir à sombra de um ácer? Ou mesmo de um abeto? Ná, não dá, a bananeira ou o chaparro no Alentejo, sim. Preguiçosos, claro, as cigarras que não têm nada para comer no Inverno por sua culpa.
E como erradicar estes estereótipos quando mesmo quem é apanhado por isso, colabora muitas vezes?! Quando se aponta o dedo, uns aos outros, aceitando  estas classificações, ou devolvendo com outras igualmente parvas?
Talvez com o tempo lá se chegue...
Mas está a demorar!


Cereja

domingo, 19 de março de 2017

O futuro já se vê


De vez em quando sinto-me muito esperta.
É agradável.
... a sensação dura até saber que há quem seja muito mais esperto, porque vai uns passos à minha frente 😆
Explico: invento coisas que, descubro depois,  já alguém tinha pensado em inventar. E olhem que é frequente!!!
Por exemplo, a última: 
Há umas semanas, numa conversa com o meu filho sobre telemóveis, concordamos sobre ser um uso que já se entranhou tão profundamente que quase nos esquecemos como era antes-do-telemóvel. Estávamos a ver o filme Zodiaco e pensávamos na complicação que era encontrar um telefone quando  os personagens estavam na rua...  Taditos. talvez até se tivessem evitado alguns crimes.
E, pensamento puxa pensamento, «daqui a uns anos» disse-lhe eu, a esperta visionária,  «vais ver que os miúdos se espantam que a gente hoje ainda andasse a ligar os aparelhos a tomadas de parede!» 
« - O quê?!» 
«-Vais ver! No meu tempo talvez não, mas daqui a uns tempos é tudo wireless
«-Tudo?! Uma coisa é um aspirador portátil ou um berbequim, que se carregam antes de usar, outra um candeeiro
«-Vais ver!!! Não é bem 'carregar-se', mas como se recebessem a energia directamente, sem fios...»
OK, estava a sonhar.
Sonhava com um mundo onde não estivesse sempre a tropeçar em fios. Onde pudesse levar um candeeiro para outro sítio sem ver se havia por ali uma tomada. Ficção científica? Ora! Também acender uma luz carregando num botão era impensável há 200 anos... E, afinal, estava a abrir portas abertas. Já está pensado. Actualmente trata-se ainda só de carregadores de telemóvel sem fios, mas preveem «acabar com a necessidade até de ligar os electrodomésticos, a uma tomada eléctrica, incluindo incluindo um frigorífico, um televisor, um aspirador, ou um candeeiro»....! Já tudo aquilo que imaginei está previsto!
A sério. Todos os aparelhos electrodomésticos podem vir a não precisar de fios! Até os candeeiros!
.......
Viva!
Vão acabar as cenas do pé preso no fio que atravessa a sala, e a queda espetacular da criatura distraída. E também os inestéticos fios ao longo dos móveis e paredes.
BOA!
Quero o futuro já! 
 Cereja

sexta-feira, 17 de março de 2017

...pensamentos distraídos sobre temas sem importância

Aqui na net tenho vários amores como já perceberam porque o ando sempre a dizer: aqui o meu bloguezinho, o meu mais velho por quem sinto mais carinho embora o abandone muitas vezes, e as redes sociais mais espevitadas, bastante mais novas, mas que também acho engraçadas. 😃
Calma, não ando em todas! Até fico parva de ver a popularidade de uma dúzia delas... quando eu, modesta, uso uma (o facebook) e de vez em quando outra (twitter) mas até já perdi a senha de entrada no «linkedin», assim como só vou ao «instagram» para ver as fotos de que me falam os amigos... Ou seja, sei que as redes existem, mas ao longe. É mesmo demasiada areia para a minha pobre camioneta . 
Mas esta manhã ao abrir o facebook, deu-me para pensar como é engraçado perceber o feitio de cada um não apenas por aquilo que diz e pela forma como o diz, mas sobretudo por aquilo que não diz!
Começando pelo extremo, quem não usa (ou pensa que não usa... *) as redes sociais. E, sobretudo entre os mais velhos, na minha geração, há muita gente! Ou não teve o mínimo interesse, ou experimentou, abriu uma conta, e aquilo não o interessou nadinha, portanto ficou em pousio, a conta está lá mas nem mexe! Ou, nem sequer experimentou com algum medo. Tenho 2 ou 3 amigos que quando pergunto se têm facebook por exemplo é como se lhes perguntasse se usam drogas duras 😠 Nãããõ!!! OK, avante.
E entre os usuários há vários géneros, uns, frenéticos, sempre ligados, sobretudo quando o próprio telemóvel dá acesso à rede, outros que passam por lá aí uma vez por dia para manter o contacto (aqui a 'je'!) e os irregulares - podem passar dias a escrever e comentar e depois desligam, e afastam-se uns tempos, e os que têm fases, estão muito tempo sem aparecer e quando já não nos lembramos deles aparecem cheios de gás.
O que tem graça, é que de uma forma geral se pode conhecer imaginar a personalidade de cada pessoa, não por aquilo que diz mas sobretudo por aquilo que não diz. Tenho amigos que usam imenso o fb mas só para «partilhar» notícias ou histórias, e nunca, ou rarissimamente, acompanham com a sua própria opinião. Um profundo receio de se exporem, só pode ser... Outros partilham piadas, cartoons, escrevem graças, mas nunca os vejo a falar de temas sérios, querem dar uma imagem alegre de si?  E há o oposto, os que só falam a sério. Eles têm humor porque depois vão clicar um «gosto» numa gracinha, mas na sua página é que não!
É um mundo, e um mundo engraçado, acho eu...

* digo «pensa que não usa» porque se vê algo no you tube, isso é também uma rede






Cereja

domingo, 12 de março de 2017

A questão da igualdade de género


Li há pouco este artigo com um título apelativo e provocante «Aqui quem manda ainda não são elas» como sem ser ser ali (?)  'elas' já mandassem...  Creio que isto veio a propósito do Dia da Mulher, o dia onde mais se fala de igualdade de género. E esse é um tema que desde sempre me interessou imenso, desde adolescente admiradora quase incondicional de Simone de Beauvoir que acredito firmemente on ne nait pas femme on le devient.
Mas, no século XXI, já não é uma 'opinião' apenas de mulheres esta noção de igualdade de género, e quase faz sorrir ler que as mulheres devem ganhar menos porque são mais fracas e menos inteligentes, como disse o palerma do tal deputado polaco. 😃 Mas a verdade é que a máquina social é um tanto perra, e séculos de preconceitos não se apagam como se apaga uma vela. Portanto a mulher foi conquistando o trabalho remunerado (digo assim porque lá trabalhar sempre trabalhou, desde a pré-história) e cada vez se aceita mais que as capacidades de um ser humano são independentes do seu género.
Mas, se teoricamente todos (na sociedade moderna) assim consideram, na prática a resistência a partilhar o poder ainda é enorme. E, portanto, é óbvio que há áreas onde ser-se macho é uma vantagem mesmo que isso seja negado. São as áreas de chefia, onde o poder é maior e mais evidente.
Portanto imaginou-se, na linha do se não vai a bem vai a mal, que se deviam criar «quotas» para forçar a participação feminina em certas áreas. 
Eu tinha uma ideia.
O escritor Mia Couto usa um nome curioso, que engana. Ele já tem contado histórias engraçadas, de situações onde estavam à espera de uma mulher quando ele chegou. Ou seja, quando se ouve falar de alguém cria-se de imediato uma imagem através do nome. Ora, se em vez das quotas (porque vem logo a crítica à descriminação positiva, etc, etc) fosse decretado que nunca aparecessem os primeiros nome mas apenas os apelidos? Não era boa ideia?
Estava toda contente com esta ideia, que modéstia à parte considerava excelente, quando reparei que de uma forma geral os tais famosos lugares de chefia não costumam ter acesso por concurso mas sim por escolha, por convite, por se conhecer de facto a pessoa. Bum!!! Lá foi a ponta do alfinete da realidade rebentar o lindo balão que eu tinha imaginado.
Pois é.
Se não vai a bem vai a mal, e lá se terá de aceitar as quotas mesmo com o risco de assim se valorizar mais o género do que a competência. Paciência. Espero que seja temporário.

Cereja