terça-feira, 20 de junho de 2017

O Horror

Tinha vários textos em rascunho para deixar aqui no blog quando me apetecesse, mas agora não me apetece, sinto que neste momento até é de mau gosto publicar coisas leves ou engraçadas. Só me é possível pensar no pesadelo que se vive agora na nossa terra. Têm sido notícias sempre e sempre piores, quando se pensava que era apenas uma noite horrível, vamos vendo que o horror continua, mais e mais e mais e o incêndio expande-se e não se deixa controlar.
Mas uma coisa são as notícias, reais, de factos, objectivas, concretas, que são já suficientes para nos deixar apavorados. As audiências já só podem ser enormes, é impossível não o serem.
Portanto não é preciso serem aumentadas com os relatos de jornalistas como abutres a alimentarem-se do desgosto alheio, apanhados com o mais profundo sofrimento. E, infelizmente, todos, ou quase todos, ficamos de boca aberta com a inacreditável falta de ética jornalistica que muitos dos nossos repórteres mostram. Muitos. Também ouvi reportagens correctas, de jornalistas que correm riscos físicos para trazer informação, e a esses agradeço o esforço e aplaudo-os.
Mas.
Há já vários anos, quando a Diana Andringa foi presidente do Sindicato de Jornalistas, falando exactamente de ética ela disse-me que fazia parte das normas nunca se entrevistar ninguém que estivesse debaixo de grande emoção. Uma questão de respeito, creio eu. Recordo essa conversa muitas vezes. Fazia sentido.
Se calhar já nessa altura, há mais de 20 anos, a regra não se cumpria completamente. Mas, desde há uns tempos, com os tabloides portugueses e a tv também taboide, na verdade faz-se exactamente o oposto, provoca-se a emoção antes de a pergunta! Até parece que se o entrevistado não estiver debaixo de uma emoção extrema, de raiva, de paixão, de medo, de susto, é tempo perdido falar com ele...
A procura do sensacionalismo, como se a realidade não fosse suficiente, é constante. E não sou a única a pensar assim. Deu brado, com tanta repercussão nas redes sociais que já se abriu um inquérito na  Entidade Reguladora para a Comunicação Social a reportagem da TVI protagonizada por Judite de Sousa, que falava ao lado de um corpo. Não se entendia a falta de sensibilidade, tanto mais vinda de uma pessoa que já passou por um luto doloroso e foi respeitada no seu desejo de não ser exposta na dor. E que é professora de comunicação social! 
Mas foi um caso entre muitos. Demasiados! Expliquem-me como é possível fazer uma entrevista (?!?) a alguém que perdeu a mulher e duas filhas com 12 e 15 anos horas antes! Porque se insiste em perguntar «Como se sente?» a gente que tem de estar de cabeça perdida, louca de dor. A sofreguidão de captar clientes aos outros órgãos de comunicação social não pode justificar tudo!
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Afinal entre estas duas capas qual a que nos chama a atenção?
Qual a que tem mais impacto por ser inesperada?


Cereja

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